Da escravidão ao culto dos orixás

A chegada dos africanos escravizados ao Brasil foi um acontecimento que teve um impacto profundo na história e cultura do país. Os africanos foram trazidos para o Brasil para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar, café, algodão e outros trabalhos que foram a base da economia brasileira durante séculos. Esses homens e mulheres trouxeram consigo suas culturas, tradições e religiões, incluindo o candomblé.

O candomblé é uma religião afro-brasileira que se desenvolveu a partir da fusão das tradições religiosas dos povos africanos que foram trazidos para o Brasil. Essa religião é uma expressão da resistência e da luta dos escravos africanos contra a opressão e a violência a que eram submetidos. Ela representa uma forma de manter viva a cultura e as tradições dos povos africanos, mesmo diante da escravidão e da opressão.

Assim, a importância dos africanos para o Brasil está diretamente ligada à sua contribuição para a cultura e a história do país. Os africanos foram responsáveis pela criação de muitas das tradições culturais que hoje são consideradas características da cultura brasileira, como a culinária, a música e a dança. O candomblé, em particular, é uma das maiores expressões da cultura afro-brasileira, e tem uma grande importância histórica e cultural.

Sendo assim, os africanos tiveram um papel fundamental na formação da cultura e da identidade do Brasil. Eles trouxeram consigo suas culturas, tradições e religiões, que foram fundamentais para a criação de uma cultura rica e diversa. O candomblé é uma das principais expressões dessa cultura e representa uma forma de resistência e luta dos escravos africanos contra a opressão e a violência.

Como surgiu a escravidão do povo africano no Brasil

A escravidão de pessoas africanas no Brasil foi um processo histórico que envolveu vários fatores e acontecimentos. Aqui estão algumas informações com base em fontes confiáveis:

  • A escravidão de pessoas africanas no Brasil teve início no século XVI, quando os portugueses começaram a colonizar o país e a explorar seus recursos naturais, como a cana-de-açúcar. Para suprir a demanda por mão de obra nas plantações, os portugueses passaram a escravizar africanos e trazê-los para o Brasil em navios negreiros.
  • De acordo com o historiador Luiz Felipe de Alencastro, autor do livro “O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul”, o tráfico de escravos africanos para o Brasil durou cerca de 350 anos, entre os séculos XVI e XIX, e envolveu cerca de 5 milhões de pessoas.
  • Os escravos africanos eram sequestrados de suas aldeias e cidades em diferentes regiões da África e transportados em condições desumanas nos navios negreiros, sujeitos a doenças, fome e maus-tratos.
  • No Brasil, os escravos eram vendidos em leilões e distribuídos entre os proprietários de terras, que os submetiam a trabalhos pesados nas plantações, minas e nas cidades. Eles eram privados de seus direitos básicos, como a liberdade, o acesso à educação, saúde e à própria vida.
  • A escravidão foi oficialmente abolida no Brasil em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. No entanto, a desigualdade e o racismo ainda persistem na sociedade brasileira, e a luta pela igualdade de direitos e oportunidades continua sendo uma questão importante.

Como os escravos africanos conseguiram manter suas tradições e cultos religiosos no Brasil durante a escravidão?

Os escravos africanos que foram trazidos ao Brasil durante o período da escravidão conseguiram manter suas tradições e cultos religiosos mesmo em meio a condições extremamente difíceis e hostis. As seguintes informações são baseadas em fontes confiáveis:

  • Durante o período da escravidão, os africanos escravizados trazidos para o Brasil foram separados de suas famílias, línguas e culturas, o que tornou difícil manter suas tradições e práticas religiosas. Além disso, os senhores de escravos muitas vezes proibiam a prática do culto africano, que consideravam uma ameaça à ordem social.
  • No entanto, os escravos africanos conseguiram manter suas tradições religiosas de diversas maneiras. Uma delas foi a prática do sincretismo religioso, que consistia em misturar elementos das religiões africanas com o catolicismo, religião oficial do Brasil na época. Dessa forma, os escravos podiam continuar praticando suas crenças de forma disfarçada, utilizando símbolos e ritos do catolicismo para representar suas divindades africanas.
  • Além disso, os escravos africanos também criaram as chamadas “casas de Angola”, que eram locais onde se reuniam para praticar suas crenças e ritos africanos de forma mais livre. Essas casas eram mantidas em segredo e eram lideradas por um sacerdote, que era responsável por manter as tradições religiosas e transmiti-las aos demais membros.
  • Com o tempo, essas práticas religiosas africanas se transformaram em religiões próprias, como o candomblé e a umbanda. Essas religiões ainda são praticadas no Brasil até os dias de hoje e são reconhecidas como patrimônio cultural brasileiro.

Como surgiu o candomblé?

O candomblé é uma religião de matriz africana que foi trazida para o Brasil pelos escravos africanos durante o período da escravidão. Sua origem remonta aos cultos tradicionais das religiões africanas, especialmente do povo iorubá, que foram trazidos para o Brasil pelos escravos.

A seguir, algumas informações baseadas em fontes confiáveis sobre a origem do candomblé no Brasil:

  • O candomblé teve origem na região que hoje corresponde à Nigéria e ao Benin, na África Ocidental. Foi trazido para o Brasil pelos escravos africanos, que mantiveram suas tradições religiosas mesmo em meio às condições adversas da escravidão.
  • Os escravos africanos que foram trazidos para o Brasil pertenciam a diferentes grupos étnicos e culturais, como os iorubás, jejes, nagôs, entre outros. Cada um desses grupos tinha suas próprias tradições religiosas, que se misturaram com o tempo no Brasil para formar o candomblé.
  • A prática do candomblé no Brasil teve início no século XIX, em Salvador, na Bahia, onde havia uma grande concentração de escravos africanos. A religião se desenvolveu de forma subterrânea, em locais escondidos e com a ajuda de escravos que fugiam de suas fazendas para se reunir em segredo e praticar seus cultos.
  • Com o tempo, o candomblé foi se expandindo para outras regiões do país e se tornou uma religião de grande importância para a cultura brasileira. A religião é caracterizada por uma forte ligação com a natureza, a presença de orixás (divindades africanas) e o uso de instrumentos musicais e danças em seus rituais.

Porque no candomblé existe uma mistura de cultos africanos que na religião tradicional yorùbá não existe?

No candomblé, há uma mistura de elementos de diferentes cultos africanos que não se encontram na religião tradicional yorùbá. Isso se deve ao fato de que o candomblé é uma religião de matriz africana que foi desenvolvida no Brasil a partir dos cultos religiosos trazidos pelos escravos africanos durante o período da escravidão.

A seguir, algumas informações baseadas em fontes confiáveis sobre a mistura de cultos no candomblé:

  • O candomblé surgiu a partir da fusão de diferentes tradições religiosas africanas, como os cultos iorubá, jeje, nagô e banto, que foram trazidos para o Brasil pelos escravos. Com o tempo, esses cultos se misturaram e se transformaram para se adaptar ao contexto brasileiro.
  • No candomblé, há uma grande variedade de orixás (divindades africanas), cada um com suas próprias características e funções. Alguns desses orixás são comuns a diferentes cultos africanos, enquanto outros foram criados a partir da fusão de elementos de diferentes cultos.
  • O candomblé também incorporou elementos da cultura brasileira, como a língua portuguesa e os costumes locais, o que contribuiu para a sua singularidade em relação aos cultos africanos de origem.
  • A mistura de cultos no candomblé é uma característica importante da religião, que valoriza a diversidade e a pluralidade de origens de seus praticantes. Cada terreiro de candomblé tem suas próprias tradições e práticas, que refletem a história e a cultura de seus membros.

Porque no candomblé não se utiliza a língua yorùbá corretamente?

No candomblé, a língua yorùbá é frequentemente utilizada de forma adaptada, com alterações na gramática e na pronúncia. Isso ocorre porque os escravos africanos que trouxeram essas tradições religiosas para o Brasil foram proibidos de falar suas línguas nativas e tiveram que se comunicar em português. Com o tempo, a língua yorùbá foi se misturando com o português e com outras línguas africanas, dando origem a uma forma peculiar de falar que é característica do candomblé brasileiro.

Algumas informações baseadas em fontes confiáveis sobre o uso da língua yorùbá no candomblé são as seguintes:

  • Os escravos africanos que chegaram ao Brasil foram proibidos de falar suas línguas nativas e tiveram que se comunicar em português. Isso fez com que a língua yorùbá se misturasse com outras línguas africanas e com o português, dando origem a uma forma adaptada de falar que é conhecida como “nagô brasileiro”.
  • No candomblé, a língua yorùbá é utilizada principalmente em cantigas, rezas e invocações aos orixás. No entanto, essa língua é frequentemente adaptada de acordo com as necessidades do terreiro e com a tradição oral de cada comunidade. Por isso, é comum encontrar diferenças na pronúncia e na gramática do yorùbá utilizado nos diferentes terreiros de candomblé.
  • A adaptação da língua yorùbá no candomblé não significa uma falta de respeito ou de conhecimento em relação à cultura yorùbá. Pelo contrário, muitos praticantes do candomblé buscam estudar a história e a cultura dos povos africanos para compreender melhor suas tradições religiosas e preservar suas raízes culturais.
  • O uso adaptado da língua yorùbá no candomblé é uma forma de resistência cultural, que valoriza as tradições africanas e as adapta ao contexto brasileiro. Essa prática também contribui para a formação de uma identidade cultural própria, que é uma das marcas da religião afro-brasileira.

Pierre Verger e sua importância para o candomblé

Pierre Verger foi um fotógrafo e etnólogo francês que dedicou grande parte de sua vida ao estudo das religiões afro-brasileiras, em especial o candomblé. Ele é considerado uma das maiores referências no estudo dessas religiões e sua contribuição para o entendimento do candomblé é de extrema importância.

Verger realizou diversas expedições pelo Brasil, especialmente na Bahia, onde se concentra a maior parte das casas de candomblé do país. Ele registrou em fotografias e estudos de campo muitos aspectos das práticas religiosas e das tradições culturais dessas comunidades.

Entre suas principais contribuições para o candomblé estão:

  • Registro fotográfico de diversas casas de candomblé, seus ritos e seus membros, permitindo a preservação da memória dessas comunidades;
  • Estudos sobre as origens africanas do candomblé, identificando semelhanças entre as práticas religiosas afro-brasileiras e as africanas;
  • Identificação da presença de elementos do candomblé em outras culturas afro-americanas, como a santería cubana;
  • Contribuição para a valorização e reconhecimento do candomblé como uma religião importante e legítima da cultura brasileira.

Verger também foi iniciado em uma casa de candomblé e adotou o nome de Fatumbi, tornando-se um membro ativo da comunidade religiosa. Sua participação direta no candomblé permitiu uma compreensão mais profunda das tradições e crenças dessa religião.

As principais casas fundadoras do candomblé

Existem diversas casas de candomblé em todo o país, cada uma com sua história e tradições próprias. Algumas das principais casas fundadoras do candomblé são:

  1. Casa Branca do Engenho Velho – Fundada em Salvador, Bahia, em 1830, é uma das mais antigas casas de candomblé do Brasil. Foi fundada por Maria Júlia da Conceição Nazaré, mais conhecida como Mãe Tatá, que era uma escrava liberta de origem nagô.
  2. Ilê Axé Opô Afonjá – Fundada em 1910 em Salvador, Bahia, por mulheres de origem iorubá. É uma das casas mais conhecidas e respeitadas do candomblé no Brasil, e tem uma forte tradição ligada à figura do orixá Oxum.
  3. Ilê Axé Iyá Nassô Oká – Fundada em Salvador, Bahia, em 1914, por uma sacerdotisa de origem jeje, chamada Ludovina Portelinha. É conhecida por sua tradição ligada aos voduns jeje, e tem grande importância histórica por ter sido uma das primeiras casas de candomblé a serem reconhecidas pelas autoridades brasileiras.
  4. Terreiro do Gantois – Fundado em Salvador, Bahia, em 1849, é uma das casas mais famosas do candomblé. Tem tradição ligada à figura da orixá Oxossi e sua fundadora foi Maria Júlia da Conceição Nazaré, a mesma fundadora da Casa Branca do Engenho Velho.

Essas são apenas algumas das principais casas fundadoras do candomblé no Brasil. Cada uma delas tem sua história e tradições próprias, que são preservadas pelos seus membros até os dias de hoje.

“Acredito que a história nos mostra a dificuldade em manter as tradições, o quanto os escravos lutaram para preservar suas crenças, mas hoje, infelizmente, muitas coisas estão se perdendo, onde o luxo está sendo mais importante que o culto, onde o orixá é mais cobrado pelos adeptos do que cultuado. Precisamos voltar um pouco no tempo, nas raízes, e ver que a luta que o povo africano teve para manter suas tradições, não pode ser desperdiçado com qual casa é melhor, qual roupa é mais bonita e principalmente, qual é o orixá que dança melhor. O grande segredo é cultuar mais e falar menos!”

Fontes:

  • OLIVEIRA, Fátima. “Candomblé”, in CASCUDO, Luís da Câmara (org.). Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2017.
  • VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “O Fotógrafo Fatumbi”, in VERGER, Pierre. Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos. Salvador: Corrupio, 1987.
  • GOMES, Flávio dos Santos. “Pierre Verger e as Religiões Afro-Brasileiras”, in MARIANO, Ricardo; LOPES, Paulino (orgs.). Enciclopédia das Religiões no Brasil. São Paulo: Loyola, 2015.
  • CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
  • SANTOS, Juana Elbein dos. Os nagô e a morte: páginas escolhidas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010.
  • VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. In: Mana, v. 2, n. 2, 1996.
  • COSTA, Emília Pietrafesa de Godoi. Terreiros de candomblé de São Paulo: um estudo antropológico. São Paulo: Edusp, 1995.
  • CAMARGO, Célia Maria Marinho de Oliveira. Africanos e seus descendentes no Brasil. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: SENAC, 2000.
  • CAROSO, Carlos Eugênio. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Paulinas, 2005.
  • MELLO, Marco Antônio da Silva. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/7602/candomble-e-umbanda-caminhos-da-devocao-brasileira. Acesso em: 01 de abril de 2023.
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